Publicado no LinkedIn no dia 03 de abril de 2020
2020 tinha tudo para ser um ano promissor, o Brasil estava saindo da UTI para a convalescência. Ainda que a passos lentos, do ponto de vista econômico, estávamos caminhando para sair da pior recessão dos últimos tempos: juros em queda, previsão de retomada do emprego e da capacidade produtiva do país, investimentos voltando, crédito fluindo.
De repente, todas as expectativas caíram por terra. O futuro agora é um quadro negro. E não estamos falando de um futuro de médio prazo é o futuro imediato, daqui uma semana, um mês.
A frase mais adequada para o momento vem da teoria da Evolução de Charles Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
O cenário atual pede novas formas de trabalho, mas a grande verdade é que, após o choque inicial, ainda estamos todos com muito medo do que vem pela frente.
Por enquanto, apenas uma coisa é certa: precisamos nos preparar para passar pela crise e para o que vem depois. Porém, não existe uma receita pronta de como agir e estamos todos tentando encontrar o caminho que seja mais adequado para a nossa própria realidade.
Olhando para dentro das organizações, temos lá uma pessoa que nesse momento está sendo mais demandado que o normal, O LÍDER!
Além de conviver com as suas próprias angústias, ainda tem que ser um orientador para a sua equipe. E cada Líder tem uma equipe com diferentes particularidades:
- Tem as equipes que estão na linha de frente para manter o básico funcionando
- Tem as que pararam porque simplesmente a sua atividade não pode ser realizada
- Tem as que estão trabalhando em Home office e os que estão tentando, mas não estão conseguindo
- Tem as que estão reinventando as formas de atuação
- Tem as que estão paralisadas precisando de muita orientação
Muitos devem estar pensando: E agora, o que faço e por onde começo?
Para ajudar a minimizar o estresse dos Líderes no meio do caos, listei algumas dicas que podem ser úteis:
1 – Explorem a sua habilidade de COMUNICAÇÃO
Converse com as pessoas da sua equipe, se importe, de verdade, com elas, entenda como está a rotina da família, se é possível fazer home office com tranquilidade ou se precisa estabelecer alguns limites. Quem tem filho e está sem ajuda dos avós ou da escola, tem um baita desafio pra manter a sanidade mental, cuidar da casa, das crianças e ainda produzir e fazer reuniões virtuais.
Não faça suposições. Pergunte, peça sugestões, escute empaticamente, respeite o ponto de vista, os medos e as particularidades de cada um.
2 – Reforce a CONFIANÇA dentro da equipe
Proporcione um relacionamento sincero, as pessoas precisam sentir confiança no líder para conseguir expor a sua realidade e saber que terão apoio para encontrar uma saída.
Fale a verdade. Claro que algumas informações não podem ser compartilhadas, mas nesse caso, informe que você tem a resposta, e infelizmente no momento não pode comunicar, mas assim que for autorizado todos serão informados. Essa é uma boa forma de cultivar a confiança.
3 – Organize a FORMA DE TRABALHO
Encontre junto com a sua equipe uma forma de trabalho que seja produtiva sem violentar as particularidades de cada um. Organize a rotina de trabalho, muitos funcionários estão perdidos sem saber como agir em um momento tão novo. Talvez para a sua equipe, uma reunião online por dia esteja de bom tamanho, para outros pode ser necessário uma reunião para orientação no início do dia e outra de fechamento de atividades no fim do expediente. Alguns grupos precisarão de reunião de status 2 ou 3 vezes por semana. Não dá pra achar que porque as pessoas estão de home office, podem trabalhar 24 horas.
Identifiquem juntos o que pode ser feito de forma mais leve, para minimizar as angústias do momento.
4 – Pratique a EMPATIA
Se alguém faz parte do grupo que precisa sair para que a maioria fique em casa, como essa pessoa está lidando com isso? Como é o impacto de tudo isso para o emocional, para a família, para a produtividade? Talvez seja o caso de remanejar atividades e colocar na linha de frente pessoas que não tem filhos ou convívio diário com pais e avós.
Antes de tudo, é preciso lembrar que as pessoas estão em pânico, inclusive o seu time, sem saber se vão perder o emprego, se o salário será reduzido, se a empresa que trabalham vai sobreviver, se estão fazendo os procedimentos de higiene corretamente, se os seus pais e filhos estão protegidos, etc, etc, etc.
5 – Ser HUMILDE e VUNERÁVEL aproxima as pessoas
Estamos todos aprendendo a lidar com a situação, e não tem nada errado em mostrar que ainda não sabemos o que fazer sobre determinado assunto. É preciso saber dosar a vulnerabilidade de mostrar que não se sabe tudo, com a coragem de se expor perante o grupo.
É necessário um trabalho de autoconhecimento para saber o tamanho da bucha que se está preparado para aguentar e buscar o autodesenvolvimento.
Ninguém sabe o que vai acontecer, mas todos nós sabemos o que queremos que aconteça.
6 – Disposição para APRIMORAR COMPETÊNCAS
É importante lembrar que a empresa continua em outro modelo de funcionamento.
O processo de Feedback não pode parar, mesmo que o “olho no olho” seja através da câmera. As pessoas precisam saber se estão no caminho certo, em um cenário tão novo. É importante valorizar os esforços e os resultados alcançados.
Nesse momento você verá quem se destaca como líder. Alguns vão tomar a frente de algumas iniciativas e ter uma postura autogerenciável. Outros vão precisar de mais orientação e você poderá identificar oportunidades de desenvolvimento e treinamento para quando a crise passar.
7 – Administrar EMOÇÕES e DUALIDADES
Tomar decisões nesse momento tem dado frio na barriga, até mesmo nas pessoas que fazem isso o tempo todo. E não tem mágica para continuar fazendo, usar o conhecimento adquirido ao longo de toda a sua experiência, o histórico de resultados e uma boa dose de coragem e intuição, vai ajudar.
Tem também as dualidades que agora estão mais latentes:
Digitalização x humanização – Tanto se fala em prezar o contato humano, mas agora o isolamento social, as vídeo conferências e o telefone são as ferramentas que temos para mostrar emoção, carinho, respeito e preocupação com o outro.
Simplicidade x complexidade – Precisamos encontrar uma forma de fazer as coisas simples para contornar situações complexas
Inovação x medo – Estamos sendo pressionados a inovar a forma de trabalho, mas o medo de errar, fazer bobagem e não atingir o resultado esperado, está ali do lado só esperando uma brecha para tomar conta da situação.
8 – Busque aliados com o mesmo OBJETIVO COMUM
Para que isso aconteça, monte um comitê de crise pautado no objetivo da sua área e com pessoas chaves.
Nesse momento todos temos que lutar pela economia, isso não é garantia de manutenção do emprego no futuro, mas é a única alternativa que temos. Nesse momento, somos todos um pouco donos da empresa, se ela não sobreviver, nós também perderemos muito.
Espero que esses tópicos contribuam de alguma forma na gestão da sua equipe.
E Lembre-se, a crise vai passar, mas esse é um ótimo momento para fortalecer a sua imagem como líder, baseado na forma como você lidou com as pessoas em uma crise sem precedentes.
Ana Paula Oliveira